terça-feira, 11 de janeiro de 2011

João Damasceno e o Problema das Imagens




Existiu um certo embaraço em relação à construção de algumas imagens desde o início do cristianismo. Essa falta de à vontade teve vários motivos. Entre os principais, encontramos a proibição bíblica "(...) não deves fabricar imagens esculpidas de qualquer coisa semelhante àquelas que estão no céu, acima, ou na terra, abaixo". (Dt. 5,8). Outro motivo forte, era o repúdio completo pelas formas de culto pagãs que atribuiam às estátuas de culto um valor hierofânico, isto é, eram o lugar onde o divino se manifestava activa e quotidianamente.
As primeiras imagens não tinham como objectivo atrair orações ou venerações. O seu objectivo era oferecer uma referência visual a uma história bíblica central para os valores cristãos. A figura do Bom Pastor, por exemplo, não era um retrato de Cristo mas uma metáfora expressando as qualidades de Cristo como condutor de almas. Os cristãos divergiam dos seus vizinhos pagãos por evitarem um certo tipo de imagens, não por evitarem imagens em geral. Quando o retrato sagrado passou a ser uma representação recorrente, o problema voltou a colocar-se de uma forma mais intensa. Como era possível representar a essência de Deus, visto que se tentava representar o irrepresentável?
João Damasceno argumenta então, no séc. VIII, a favor da imagem. Para ele, aquilo que se representa não é a essência de Deus visto que isso é uma impossibilidade. Não se representa o invisível, mas aquilo que se fez visível. De facto, o Deus do Antigo Testamento torna-se carne com Cristo. De alguma forma torna-se Ele Próprio imagem. A proibição do Antigo Testamento refere-se, então, a esse primeiro momento, em que Deus é só essência irrepresentável. Deus não poderá proibir a representação icónica a partir do momento em que se torna visível, perceptível como figura.
Quem negar os ícones, nega, ao mesmo tempo o mistério da encarnação.

O texto de Damasceno irá tornar-se uma referência até ao séc.XV.

                                                                           Alexandra Pinto Rebelo

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